Sua empresa sabe como fazer uma recuperação financeira? As empresas que concedem crédito inevitavelmente enfrentam inadimplência. O problema começa discreto, com atrasos pontuais, e pode evoluir rapidamente para um cenário de comprometimento do caixa, desequilíbrio nas projeções e desgaste nas relações comerciais. Nessa dinâmica, a recuperação de crédito não pode ser tratada como um mero procedimento reativo, mas como um processo estruturado, que combina análise técnica, inteligência comercial e decisão estratégica.
Neste artigo, exploramos os fundamentos de uma recuperação financeira eficaz, com base na realidade das empresas brasileiras, especialmente escritórios que atendem carteiras de cobrança e departamentos financeiros de companhias que operam a prazo.
O Brasil encerrou 2024 com mais de 72 milhões de endividados, conforme dados revelados pela Serasa Experian, a soma total superior a R$ 397 bilhões. No setor empresarial, a inadimplência atingiu principalmente micro e pequenas empresas, com aumento de 9,4% no volume de dívidas em relação ao ano anterior.
Importante ressaltar que boa parte dessas dívidas está concentrada em setores que dependem de vendas parceladas ou prestação de serviços recorrentes como varejo, saúde, tecnologia, educação e logística. O aumento da concessão de crédito, sem critérios robustos de qualificação prepara o terreno para o que virá a ser um ciclo improdutivo de cobrança.
O sistema de recuperação de crédito é o conjunto de processos, estratégias e ferramentas utilizados por empresas, escritórios especializados ou instituições financeiras para reaver valores devidos por clientes inadimplentes. As etapas deste processo vão desde a identificação da dívida e classificação do devedor até tentativas de negociação amigável, renegociação de prazos ou valores, protesto em cartório e, em casos mais complexos, ações judiciais. O objetivo é restabelecer o fluxo financeiro e reduzir prejuízos, sempre considerando a viabilidade de recebimento, o custo da cobrança e o tempo decorrido desde o vencimento.
A diferença fundamental entre uma e outro está no método. A cobrança, em regra, se inicia de forma automática, com disparos de e-mails, ligações e notificações de atraso. Os processos de cobrança seguem uma cartilha padronizada, que ignora as variáveis do perfil de cada devedor. Por sua vez, a recuperação leva em conta o histórico, os riscos e realiza um mapeamento das chances de êxito para, posteriormente, definir as estratégias.
Pensando nisso, as empresas maduras tratam o crédito como um ativo a ser protegido desde o momento da concessão e quando o inadimplemento ocorre, acionam mecanismos bem definidos para recuperar o valor, o relacionamento ou ambos.
Para recuperar crédito de forma eficaz, internamente ou por meio de escritórios especializados é necessário adotar uma estrutura que envolva o seguinte:
É preciso separar inadimplência pontual de inadimplência estratégica. Os devedores eventuais, com histórico de adimplemento, têm mais chances de retomada e os reincidentes demandam abordagem mais incisiva.
Antes de iniciar qualquer contato, é preciso entender se no contrato existe cláusula de juros e multa, se há possibilidade de execução, e quais as garantias previstas. Além disso, é necessário estimar o valor líquido que poderá ser recuperado e o custo envolvido no processo.
O canal escolhido interfere na taxa de sucesso. Nas cobranças empresariais o e-mail formal é mais efetivo que o telefone. Para casos mais complexos, o contato por intermédio jurídico ou com proposta estruturada com cronograma é uma prática consolidade que facilita a recuperação do crédito.
Toda tentativa de recuperação deve ser documentada. Nas empresas maiores, as plataformas de CRM específicas para crédito organizem esse histórico e evitam repetição de erros ou promessas não cumpridas.
Renegociar exige flexibilidade, mas também limites. Por isso, conceder descontos abusivos, prazos excessivos ou parcelamentos desproporcionais não é uma prática recomendada. A política deve ser claramente estabelecida, sobretudo quanto ao valor mínimo recuperável.
Atualmente, há soluções de automação, inteligência artificial e análise preditiva que têm ampliado a capacidade das empresas de recuperar valores de forma mais estratégica. Algumas ferramentas permitem:
Esses recursos potencializam os resultados e permitem decisões mais fundamentadas.
A insistência pode custar mais do que a própria dívida. Por isso, muitas empresas adotam políticas de write-off, ou seja, baixam o valor inadimplente como prejuízo contábil após esgotadas as tentativas razoáveis de recuperação.
O prazo para esse reconhecimento varia conforme a natureza do crédito e a estratégia da empresa, mas normalmente gira em torno de 180 a 360 dias de inadimplência sem resposta efetiva.
No entanto, a decisão deve vir acompanhada de análise dos motivos da inadimplência e revisão dos critérios de concessão para que erros não se repitam.
A recuperação de crédito bem-feita impacta diretamente no equilíbrio financeiro, na reputação de mercado e na eficiência operacional da empresa. Mas, mais do que isso, revela maturidade na gestão de riscos e visão de longo prazo.
As empresas que encaram o inadimplemento como parte do ciclo comercial e não como falha isolada estão mais preparadas para atravessar períodos de instabilidade, manter relacionamentos sólidos e sustentar margens saudáveis.
Recuperar crédito não é apenas receber o que foi perdido. É também evitar novas perdas.
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